Brasileiros Mundo A Fora

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A internet teve um grande impacto na vida de todos nós. E sua missão principal foi cumprida: a de nos conectar a qualquer momento e de qualquer lugar.  E é desta forma que hoje nós sabemos quase que instantaneamente o que pensam e fazem nossos amigos que estão espalhados pelo mundo.

Neste momento em que o Brasil atravessa uma crise tão grave é muito comum ouvirmos falar em morar fora, abandonar o barco, viver no primeiro mundo. 
Mas será que é tão fácil assim?  Como será que é viver em lugares tão diferentes do nosso país?

Tenho amigos e parentes que moram fora bem antes dessa crise começar e resolvi fazer as mesmas perguntas a todos eles para saber como se adaptaram, do que sentem mais falta e principalmente o que eles pensam sobre o momento (difícil) que o Brasil vive:

1)Qual foi o motivo que te levou a morar fora e há quanto tempo você está aí ?


IGOR SAALFELD, RADIALISTA E JORNALISTA, MORA EM HEINDELBERG NA ALEMANHA

IGOR: Bom, sou de família alemã, o que desde pequeno me fez despertar interesse em pelo menos conhecer a Alemanha. Em 2010, trabalhava numa emissora de rádio em Jundiaí. Passei 2 semanas de férias na Alemanha. Fiquei vidrado pelo País e 2 meses depois larguei tudo e fui de mala e cuia pro Velho Continente. Por motivos pessoas, em 2012 regressei ao Brasil, onde fiquei 2 anos. Em 2014, novamente larguei o Brasil e desde então estou construindo minha vida na Alemanha.


SOFIA: Eu estava de ferias e conheci um rapaz. Começamos a namorar a distância, casamos e eu me mudei, transferindo meu trabalho também pra cá.


RACHEL: Me mudei para o Canadá em março de 2014 porque me casei com um canadense.


Rachel Newman e seu marido Simon moram em Toronto, no Canadá. 
2) Morar fora é sempre um desafio: a língua, os costumes, etc. Qual foi a maior dificuldade para se adaptar ? 

IGOR: O idioma não foi o meu maior desafio, já que desde pequeno falo alemão. Mas o maior desafio é superar a falta de amizades. O brasileiro tem a vantagem de ser muito aberto às novas pessoas. Os alemães são mais fechados. Os alemães são muito planejados em sua vida privada. Quer marcar um passeio com alguém? Precisa agendar. Quer chamar alguém pra te acompanhar num almoço, num fim de semana? Precisa agendar. Encontros espontâneos (em cima da hora) entre amigos são muito difíceis, já que na maioria das vezes é tudo muito agendado.
Porém, entre vantagens e desvantagens a vida aqui, principalmente no que diz respeito à qualidade de vida, é muito melhor.


SOFIA: Talvez eu diria que o maior desafio é o idioma. Mesmo falando inglês fluentemente ainda não é comparável com o inglês native de uma pessoa que cresceu e se educou aqui. Existe também um desafio constante de compreender a perspectiva e expectativas dos americanos que são diferentes das nossas. Eu sinto que mesmo morando aqui há 24 anos ainda estou constantemente me adaptando e aprendendo.


Ana Sofia Krogh-Doyle, Aeroviária, mora com seu marido Mike em Honolulu, Hawaií
RACHEL: Normalmente as pessoas acham que morar em outro país, sobretudo um de qualidade de vida tão boa quanto o Canadá são apenas rosas. De fato é uma saída e tanto da zona de conforto. Acho que o maior desafio é começar do zero em todos os aspectos. Se precisava comprar algo específico ou de um profissional específico ou qualquer coisa, normalmente tinha que perguntar para alguém, não sabia nada. No Brasil sabemos sobre profissionais, produtos, lojas, e temos um nome feito. Costumava falar que parecia que eu tinha 5 anos, tendo de perguntar até sobre produtos de limpeza. Aprender o funcionamento de uma nova sociedade, tudo acaba sendo diferente. Depois de um tempo eu sentia que já era uma adolescente, sabendo mais, agora brinco que devo estar com meus 21 anos.

3) Enquanto você vive aí o Brasil passa por um momento sem precedentes marcado por escândalos de corrupção, violência, desemprego, etc. Qual a tua percepção dessa crise? 



IGOR: Acompanho tudo o que acontece no Brasil, pela internet. Fico revoltado com tanta coisa errada que acontece na esfera política e me revolta o quanto o povo brasileiro é passivo e aceita tanta coisa errada que aí acontece.
A violência (praticamente uma guerra civil) foi um dos pontos que mais pesaram para minha saída do Brasil. A injustiça fiscal, que faz com que o brasileiro pague contas e tributos altíssimos, sem receber o serviço de volta também foi um fator que pesou muito. Somente uma grande revolta popular poderá mudar o rumo do País.


SOFIA: Triste, lamentável e uma sensação de incapacidade de conseguir fazer alguma coisa para ajudar. Me da uma certa vergonha de ver noticias ruins do Brasil no noticiário.

RACHEL: Voltei ao Brasil em janeiro de 2015 depois de 9 meses fora e confesso que estranhei. A gente se esquece de muita coisa. Vivemos um grande desafio, e quando olhamos de longe temos de fazer o esforço de nos mantermos neutros: nem nos alienarmos, ignorando o que acontece e nem nos desesperarmos, achando que tudo está horrível e até sentindo medo de retornar ao Brasil. O que sinto muito é pela banalização da violência e do valor da vida que estamos vivendo. Às vezes leio umas notícias que nos fazem refletir.



4) O que os nativos com quem você convive pensam sobre este momento do nosso país? 

IGOR: O Brasil é visto como uma terra muito bonita, com pessoas simpáticas e alegres. Porém, os alemães veem o Brasil como um País que sofre muito de violência e corrupção. Essa percepção não é de agora. Os alemães ficaram chocados em ver a imensidão de dinheiro gasto na Copa do Mundo, em estádios como o de Manaus onde sequer existe um clube de primeira divisão. Também se chocaram em ver o que aconteceu em Mariana e, principalmente, a impunidade com que o caso foi tratado pelas autoridades. Notícias boas chegam raramente por aqui e mesmo assim o europeu, de maneira geral, ainda vê com otimismo o Brasil sendo um destino de férias, com suas belas praias, seu carnaval e seu povo alegre.

SOFIA: Não acompanham muito. Mas são solidários.


RACHEL: Os canadenses são muito educados. Os que conheço comentam sobre algo que leem na mídia mas sem fazer juízo de valor ou crítica. Eles gostam muito do Brasil e dos brasileiros.



5) A internet reduziu a distância mas ainda não é possível tomar um café com pão de queijo virtual. Do que você sente mais falta?

IGOR: Sinceramente, não sinto tanta falta do Brasil como acharia que fosse sentir. Mas o tradicional arroz com feijão e os amigos que sempre estavam por perto e dispostos a fazer qualquer coisa, a qualquer hora é claro que fazem falta.

SOFIA: O que mais sinto falta é a música, barzinhos, um cantinho e um violão. A alegria, espontaniedade, animaçao! Claro que em primeiro lugar a distancia da família é uma perda na nossa vida irrecuperável. Sinto muito estar longe de todos!



RACHEL - Sinto falta dos familiares e amigos! Daquela referência de passado, por exemplo, se falarmos "Silvio Santos vem aí" ou qualquer tirada que fez parte da nossa vida, outro brasileiro entende, já pessoas de fora não. Da mesma forma não temos as referências deles aqui quando eles fazem as mesmas tiradas. Sinto muita falta da comida, da comida da mãe,  coxinha, do Beira Rio, do Mirim Dog. E mesmo que façamos prato brasileiro aqui ou se formos em restaurante de comida brasileira, não adianta, o sabor não é o mesmo.


6) Quais os prós e os contras de se viver em outro país?  Pensa em voltar ?

IGOR: Não há lugar perfeito no mundo. Ou se houver, ainda não conheço. Os contras são os pontos que citei acima, durante a entrevista. Os prós são a educação e respeito ao próximo do europeu. A acessibilidade aos bens, do ponto de vista financeiro. Os altos impostos que são descontados direto do pagamento soam como um ponto negativo, mas voltam ao cidadão em forma de transporte, cultura, segurança, lazer e saúde.

SOFIA: Eu não penso em voltar. Mas a distância da familia é o maior obstáculo. Especialmente depois de muitos anos.

RACHEL: O maior ponto positivo é a chance de sair da zona de conforto. O crescimento é sem igual. A capacidade de ser flexível e de perceber que somos capazes de tamanha mudança. Aqui em Toronto é um local com respeito sem igual, aqui todos são respeitados, independente de qualquer coisa, em qualquer lugar.
Sobre contra, vamos dizer que não existe paraíso. Quando viajamos como turistas queremos morar naquele local porque não sabemos como é o dia a dia, estamos relaxados, em férias; mas quando moramos vivemos o dia a dia, a realidade.Não descartamos em voltar. No futuro, quem sabe?


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