Para minha mãe!
18:54:00
"Um dia você me disse:
- Quando você tiver um filho vai entender !
Pois é ! Agora eu sei.
Obrigada por fazer de mim a mulher e a mãe que eu sou hoje."
Falar da minha mãe é muito fácil. Ela sempre foi minha referência. Teve coragem de largar um marido alcóolatra, pegar os cinco filhos e começar uma nova vida em São Paulo. Mesmo nunca tendo cursado uma faculdade minha mãe conversa sobre todos os assuntos em um português correto porque sempre gostou de ler. E esse hábito permanece com ela até hoje. Ela tem uma biblioteca com mais de 200 títulos em casa. Jornais, livros e revistas fazem parte do seu dia a dia. Assim como Palavras Cruzadas que ela adora e que com certeza exercitou seu cérebro que, aos 88, ainda é muito lúcido. Com mais de 60 anos ela viajou sózinha para a Europa para o nascimento do meu sobrinho. Ficou um bom tempo lá e conheceu Paris e Lisboa que eram seus sonhos. Voltou mais uma vez para o nascimento do segundo filho de minha irmã.
Minha mãe criou e educou cinco filhos sem trabalhar fora porque todos nós fomos trabalhar desde muito cedo para ajudar em casa e dentro das nossas possibilidades nunca faltou nada. Em sua casa ela recebia nossos amigos, os sobrinhos, os parentes que precisam de um apoio. A casa dela sempre foi o refúgio da família. Quando me separei do meu primeiro marido foi pra lá que fui com minhas filhas. Minha mãe adora fazer nhoc na mesa grande de madeira de sua cozinha em um sítio bem próximo da cidade. Ama sorvete e adora vinho.
Mas, pela primeira vez na minha vida, vi minha mãe em um hospital. Caiu e fraturou o fêmur. Foi um choque! De repente a vi abatida e triste (talvez com medo). Foram horas esperando o diagnóstico e eu lá na maca ao lado dela, com as mãos em sua cabeça e aí comecei a rezar para a Nossa Senhora da Aparecida da qual ela é devota. Ela rezou junto comigo e assim nos sentimos mais fortes.
De repente os papéis se inverteram. Era eu que dava força, que a cobria com as cobertas por causa do frio e cuidava do seu bem estar.
Quando o médico disse que ela ficaria internada eu e meus irmãos nos revezamos no hospital para que ela não ficasse sozinha. A última noite foi comigo. E confesso que foi difícil vê-la sendo perfurada com diversas injeções, fazendo eletro, raio x, sendo virada e desvirada do avesso e passando mal com a quantidade enorme de remédios. Dormimos aos poucos, eu com uma das mãos em seu corpo para que ela sentisse que mesmo a noite, em um quarto de hospital, ela não estava só.
Agora ela começa um longo processo de recuperação em casa. No começo entre a cama e a cadeira de rodas e depois no andador e bengala.
A gente sempre acha que Mãe é eterna. Custa a acreditar que envelhecem, adoecem e um dia precisam de nós.
No Brasil, mesmo com todas as dificuldades, as famílias cuidam e acolhem seus idosos. Somos amorosos e quero crer que ainda seremos um país que respeitará a experiência de vida deles.
Na minha família, graças a Deus, respeitamos e cuidamos dos nossos idosos. Minhas filhas e sobrinhos se preocupam, visitam e são presentes na vida da avó. E eu tenho certeza de que um dia cuidarão de mim com o mesmo amor.
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